terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A Necessidade da Responsabilidade Universal



O mundo está se tornando cada vez mais interdependente e é por isso que acredito firmemente na necessidade de desenvolver-se a responsabilidade universal. Precisamos pensar em termos globais, pois as conseqüências de medidas adotadas por um determinado país, hoje, ultrapassam fronteiras. A aceitação de padrões universais, como os descritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Convenção Internacional sobre os Direitos Humanos, é primordial no mundo atual, cada vez menor. O respeito pelo direitos fundamentais do ser humano não é apenas um objetivo a ser atingido. É antes o alicerce indispensável a qualquer sociedade.

As barreiras artificiais que separavam nações e povos ruíram em tempos recentes. O sucesso dos movimentos populares no desman-telamento da separação entre os países do Leste e do Ocidente, que polarizou o mundo durante décadas, constituiu-se motivo de grande confiança e expectativa. Contudo, permanece ainda um enorme abismo no coração da nossa família humana. Refiro-me à divisão dos países do Norte e do Sul. Todos aqueles comprometidos com os princípios básicos de igualdade, que são o cerne dos direitos humanos, não podem ignorar as grandes disparidades econômicas existentes no mundo de hoje. Não se trata apenas de afirmar que todos os seres humanos têm direito a usufruir da mesma dignidade. Há de se traduzir as palavras em ações. Temos a responsabilidade de buscar alternativas para alcançar uma distribuição mais igualitária dos recursos mundiais.

Temos testemunhado um movimento popular fantástico em prol dos direitos humanos e das liberdades democráticas no mundo. Este movimento deve tornar-se cada vez mais forte, para que não haja governo ou exército capaz de suprimi-lo. É muito natural e justo que nações, povos e indivíduos exijam respeito aos seus direitos e liberdades, e que lutem para erradicar a repressão, o racismo, a exploração econômica, a ocupação militar e as várias formas de colonialismo e dominação estrangeira. Os governos em geral deveriam dar apoio prático a essas reivindicações, ao invés de apenas as apoiarem verbalmente.

Acredito que a falta de compreensão quanto à verdadeira natureza da felicidade é a principal razão das pessoas infligirem sofrimento a outras. Alguns indivíduos acham que só podem alcançar a felicidade causando sofrimento ou que sua própria felicidade é tão importante, que a dor causada aos outros é insignificante. Esta é uma visão extremamente estreita da vida, já que ninguém pode efetivamente beneficiar-se com o sofrimento alheio. Ainda que haja um ganho imediato às custas dessa dor, ele é passageiro. A longo prazo, causar sofrimento ao próximo e usurpar seu direito à paz e felicidade geram ansiedade, medo e desconfiança. O cultivo do amor e da compaixão ao próximo é essencial para criarmos um mundo melhor e mais pacífico. Para tal, é necessário desenvolvermos uma preocupação genuína por nossos irmãos e irmãs menos afortunados. Temos a obrigação moral de auxiliar e dar apoio incontestável a todas as pessoas privadas de exercer seus direitos e liberdades, que muitos de nós têm garantidos.

Ao nos aproximarmos do fim do presente milênio, percebemos que o mundo está se tornando uma grande comunidade. Juntos, confrontamo-nos com graves problemas, tais como superpopulação, escassez dos recursos naturais e uma crise ambiental sem precedentes, que ameaçam os alicerces de nossa própria existência neste planeta. Os direitos humanos, a proteção ao meio ambiente e maior igualdade social e econômica são fatores interligados. Acredito que para enfrentarem os desafios de nosso tempo, os seres humanos deverão desenvolver um sentido maior de responsabilidade universal. Cada um de nós deve aprender a trabalhar não somente em benefício de si próprio, sua família ou nação, mas em prol da humanidade como um todo. A responsabilidade universal é a chave para a sobrevivência do Homem e é a melhor garantia para a manutenção dos direitos humanos e da paz mundial.

(Discurso de Sua Santidade o Dalai Lama na Reunião de Paris da UNESCO, durante a comemoração do 50º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.)

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